Sempre que leio poesia, sinto que entro num espaço de respiro: é como se as palavras que leio, me lessem também. Quando escrevo, acontece algo semelhante. Cada poema nasce como tentativa de nomear o desconhecido, de dar corpo ao que vibra por dentro. A poesia, para mim, é esse lugar onde a vida encontra linguagem e a linguagem se faz vida.
Foi com esse olhar que me aproximei de Alma mais do que Tênue. E logo percebi que não se trata apenas de um livro de poemas, mas de uma travessia pela delicadeza e pela coragem de sentir, pela escolha sensata de não endurecer diante do mundo.
Um dos primeiros fragmentos que me tocou foi este:
“É no amor,
não como romantismo,
mas como compreensão radical do outro,
que a alma aprende a andar.” (p. 19)
Aí encontrei uma verdade que ultrapassa o verso: não caminhamos sozinhos. A ternura é força, a delicadeza é coragem, e o amor — despido de idealizações — se revela como movimento que sustenta o ser.
Mais adiante, outro poema me fez suspender a leitura para respirar:
“Amar não é destino, é decisão —
uma escolha diária de não endurecer.” (p. 21)
Nessas linhas, o poeta entrega o coração do livro: o amor como prática cotidiana, como disciplina do sentir, como recusa em deixar que o tempo e as feridas transformem a alma em pedra.
Ao longo das páginas, Alexandre Mattos nos conduz por esse exercício de escuta. Sua poesia não foge da vida, tampouco a idealiza: ela a acolhe, com suavidade e firmeza. É nesse gesto que encontrei o testemunho de um homem, mas também a possibilidade de reencontrar o essencial em mim.
Como leitora, guardo especialmente esta lembrança:
“É sentir você sem te ter.
E ainda assim, ser inteiro.” (p. 41)
Alma mais do que Tênue é testemunho e é dádiva. Quem o lê recebe, mais do que palavras, um abrigo, um espelho delicado, um convite à inteireza. Porque, ao sustentar o amor, a poesia de Alexandre Mattos sustenta também o humano em nós.
Marina Marino
agosto 2025
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